Richard Dennis é a personificação do “American Dream”. Começou a interessar-se pela transacção de futuros, quando em meados da década de 1960 arranjou um emprego de Verão no “floor” duma bolsa norte-americana. Em 1970, decidiu começar a transaccionar por sua conta e com 1,600 dólares emprestados pela sua família, comprou um lugar na Mid America Exchange, uma bolsa especializada na negociação de contratos de futuros “mini” (margens mais diminutas), e que se direcciona claramente para o segmento de pequenos investidores, para os quais uma posição aberta num qualquer contrato de futuros normal já representa uma grande posição. Na aquisição do lugar, Dennis gastou 1,200 dólares ficando com somente 400 dólares para transaccionar no “pit”. Passados vários anos, Dennis tinha transformado esses 400 dólares em cerca de 200 milhões de dólares. Apesar de ser considerada uma lenda entre os traders norte-americanos, ao longo da sua carreira de “trader”, Dennis teve alguns “contratempos” graves e na altura em que a entrevista para o livro de Schwager foi realizada, Dennis atravasseava um desses momentos, derivado do crash de Outubro de 1987.
Richard Dennis considera que a melhor altura para se cometerem todos os erros possíveis é quando se começa a “carreira” de trader, pois muito provavelmente é nesse período que se transsacionam valores pouco arriscados. Pelo menos foi o que se passou consigo. Considera que o sucesso inicial pode criar vícios. Contudo, também considera que nem sequer é importante se as primeiras transacções foram lucrativas ou não; o que interessa é se a primeira transacção lucrativa foi obtida com uma posição longa ou curta. De acordo com o entrevistado essas pessoas tendem a ser eternos “bulls” ou “bears”.
Com 400 magros dólares no bolso para iniciar a sua carreira, Dennis acabou por ser bafejado com o míldeo (praga que ataca os cereais) e rapidamente transformou esses 400 dólares em 2,000, já que detinha posições longas abertas em milho, trigo e soja. Ao fim dos primeiros três meses de trading tinha conseguido obter 3,000 dólares e estava impressionado consigo próprio. Mesmo assim, decidiu increver-se na Universidade, mas ao fim de uma semana já tinha desistido de estudar e estava em Chicago novamente, desta vez para sempre. Logo a seguir ao sucesso inicial, aconteceu aquela que Richard Dennis considera ser a sua maior perda de sempre. Passado pouco tempo de ter aberto uma posição, viu-se confrontado com uma perda de 300 dólares. De forma a tentar compensar essas perdas, inverteu a posição, acabando por incrementar a sua perda. Voltou a inverter a sua posição para a original e novamente voltou a perder. No fim do dia tinha perdido 1,000 dólares, 33% do seu capital inicial. Com este dia particularmente infeliz, Dennis aprendeu que uma perda relevante afecta o julgamento de uma transacção, portanto, o melhor é ir para casa e descansar…
Em 1973, coseguiu juntar capital suficiente para comprar um lugar na CBOT (Chicago Board Of Trade), a maior e mais antiga bolsa de derivados do mundo. Continuou a transaccionar no “pit” durante 5 anos e viu muita gente a cometer erros completamente infantis. Recorda acima de tudo que via muita gente a não conseguir manter abertas posições claramente ganhadoras, mesmo quando o mercado fechava vários dias consecutivos em “limit-up”. A este propósito, Richard Dennis é particularmente crítico, já que é um “trend follower” (seguidor de tendência) assumido e que não gosta de mercados “a andar de lado” porque dão origem a muitos “breakouts” falsos. Por isso, segue sempre a tendência e apenas quando existem fortes indícios (confirmados sempre pelo mercado) de que a inversão de tendência já ocorreu, é que resolve inverter as suas posições, ou seja, nunca procura “encontrar” os topos ou fundos. Esta “filosofia” assenta na premissa de “esperar o inesperado”, isto é, nunca partir do pressuposto que determinado activo transaccionado em bolsa está demasiado caro ou demasiado barato. Não existem barreiras para o mercado. As pessoas não se devem limitar a seguir o passado. Neste momento da entrevista, Schwager considerou ter encontrado uma incoerência no discurso de Richard Dennis, pois ao fim e ao cabo, como analista técnico e “trend follower”, o estudo do passado seria sempre o mais importante para Dennis. Este contrapõe esta afirmação com um exemplo real. De acordo com um estudo que realizou, em 1972, os futuros da soja sempre que subiam ou desciam 0.50 dólares era altura de inverter posições, pois a variação não excedia esse valor. Historicamente, inverter a posição seria a decisão mais acertada. Na prática, a decisão seria a errada, já que após mais uma subida de 0.50 dólares, o preço da soja acabou por subir mais 8 dólares. Dennis considera que um bom sistema “seguidor de tendência” captaria sempre esta subida e possibilitaria um lucro avultado. Adepto confesso de sistemas de “trading” que geram sinais automáticos, Dennis afirma que na escolha de um sistema de trading deste género o factor principal é a coerência: para qualquer “commodity”, o mesmo sistema de trading tem de despoletar os mesmos sinais, caso contrário, não é utilizado. O entrevistado considera que estes sistemas não resultam no mercado accionista, já que, ao contrário do que acontece em mercados de “commodities”, os preços têm um comportamento muito mais aleatório e não dependem apenas da procura e da oferta. Ainda assim, independentemente “do mercado que se transacciona”, considera que, no longo prazo, a sorte e o azar não desempenham qualquer papel na performance do trader.
Richard Dennis identifica facilmente as suas más ideias de “trading”: Quando tem uma posição aberta perdedora mais do que duas ou três semanas é porque essa posição está errada, independemente do montante. Normalmente, a frase do detentor de uma posição aberta perdedora é qualquer coisa como “Bolsa, nem quero ouvir falar disso…”. A este propósito, Dennis considera que ao contrário do que o senso comum possa indiciar, um período menos bom (com prejuízos) é precisamente a altura na qual uma pessoa se deve concentrar mais nas posições que tem abertas e que vai abrir. O ano da sua carreira que destaca pela negativa é o ano de 1978, mas justifica a sua fraca performance com a mudança do “pit” para o escritório. O factor catalisador desta mudança foi a crescente necessidade de transaccionar mercados mais líquidos, como câmbios e petróleo e implicou modificações no estilo e na perspectiva temporal dos investimentos, que de “intraday” passou para uma perspectiva de mais longo prazo. Apesar disto, nunca incorpora cenários macroeconómicos (taxa de juro, balança comercial, etc…) nas decisões individuais de “trading”, pois considera que a performance de cada transacção em nada depende de factores macroeconómicos.
Uma fase da sua carreira que Dennis fala com particular agrado é o início da formação de traders e assombro que lhe causou o facto de estes formandos terem sido tão bem sucedidos. A decisão de entrar no campo da formação deveu-se a uma discussão particularmente aguerrida com um dos seus sócios, que advogava que um trader de sucesso nunca poderia ser criado, pois estes necessitam de ter capacidades inatas especiais. Dennis defendia precisamente o contrário: pode-se criar um trader de sucesso. De forma a esclarecer quem tinha razão. Nos anos de 1984 e 1985 formou dois grupos de traders juntamente com os seus colaboradores. Em 1984 receberam 1,000 candidaturas, que foram reduzidas para 40. Posteriormente procederam a nova triagem e escolheram 10, que tiveram formação apenas 2 semanas. Em 1985, escolheram outro grupo de 13 pessoas, que posteriormente foi reduzido a 10. Este último grupo teve apenas 1 semana de formação. Todas estas pessoas iniciaram a sua actividade com 100,000 dólares cada uma, valor que em 1988 ascendia, em média, a 2 milhões de dólares. Richard Dennis havia provado o seu ponto de vista.
Após o “crash” de Outubro de 1987, a entrevista continuou, já que existiam motivos de interesse para que tal acontecesse. Derivado do “crash”, os fundos geridos por Richard Dennis deixaram de ser transaccionados pois em Abril de 1988 foi accionada automaticamente o mecanismo de protecção do cliente, o que acontece quando um fundo perde metade do seu capital. Após estes acontecimentos Dennis decidiu retirar-se do “trading” e dedicou-se à política. Os fundos que geria, tiveram uma fraca performance no seu último ano de vida, mas quem tivesse investido 1,000 dólares na subscrição inicial do fundo, teria chegado a Abril de 1988 com 3,833 dólares, ao que corresponde uma valorização média anual de 25%. Da conta pessoal, Dennis perdeu 10% em termos líquidos, mas se se considerarem todas as doações que fez ao longo da sua carreira, essa percentagem sobe para valores consideravelmente mais elevados.
Como corolário, Dennis afirma que o maior erro de trading é perder uma oportunidade de obtenção de um gordo lucro por ter o dinheiro empatado em transacções inócuas. Segundo as suas estimativas, 95% dos seus lucros advieram de apenas 5% das suas transacções.
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