sábado, 22 de outubro de 2011

Grandes Investidores- Gary Bielfeldt

Gary Bielfeldt é aquilo que pode ser encarado como a personificação do “American Dream”. Começou a transacionar futuros nos anos 60 com um capital inicial de apenas 1,000 dólares, um valor tão baixo, que apenas se podia dar ao luxo de transaccionar 1 contrato de cada vez (futuros de milho, o mais pequeno entre os diversos contratos de futuros de cereais). Tornou-se um dos maiores traders de T-Bonds do mundo devido a série de circunstâncias extraordinárias. Antes de mais importa realçar que este trader de excepção não acredita em diversificação, isto é, a especialização e o profundo conhecimento de um mercado é a base da sua filosofia de trading. Tornar-se um perito em determinado mercado e concentrar todo o estudo e energias no mesmo é, portanto, a primeira condição para o sucesso. Durante os primeiros anos todos os mercados de futuros relacionados com a soja (refeição, óleo e sementes) foram a sua área de especialização. Apesar de pretender dedicar-se exclusivamente ao trading, o seu capital inicial não lho permitia e nos primeiros anos desenvolvia uma actividade paralela de corretagem. Assim, o seu problema era “como é que posso ganhar dinheiro suficiente para me dedicar a tempo inteiro a isto?” Em 1965, abriu uma enorme e imprudente posição longa em futuros de sementes de soja, pois acreditava que se estava a desenvolver uma escassez no mercado. Na altura aplicou 10,000 dólares em margens, o que lhe possibilitou a compra de 20 contratos. Um quebra de apenas 10 cêntimos na cotação levaria imediatamente à perda de todo o seu capital inicial e uma quebra ligeiramente menor levaria ao accionar da “margin call” (encerramento automático devido à necessidade de reposição da margem inicial) e ao consequente depauperar da sua conta. Incialmente, os preços chegaram a cair mas a “margin call” não chegou a ser accionada. e eventualmente, os preços acabaram por subir. Quando encerrou a sua posição, tinha duplicado o seu capital e passou a dedicar-se exclusivamente ao trading.
Durante quinze anos a sua conta cresceu consistentemente e no início dos anos 80, o mercado de soja já se tornava demasiado pequeno para as posições que abria, pois existe um limite máximo de 600 posições. Em 1983 este facto em conjunto com uma má transacção levaram Bielfeldt a mudar-se “de armas e bagagens” para o maior e mais líquido mercado de futuros do mundo, o das obrigações do tesouro norte-americanas (T-Bonds), no qual a posição limite ascendia a 10,000 contratos. O timing desta mudança foi fulcral para o seu sucesso, pois coincidiu com o desenvolvimento de um fundo no mercado obrigacionista. Bielfeldt considerava que esse fundo estava próximo e começou a tentar apanhá-lo quando os as obrigações cotavam entre os 63 e 66 dólares. Sempre que abria uma posição longa colocava uma stop de protecção um dólar e meio abaixo (caso fosse despoletada perdia em cada contrato cerca de 1,500 dólares) e tendo em conta que as T-Bonds desceram até a um mínimo de 55 USD, o período de tentativa de “apanhar o fundo” acabou por ser um período de algumas perdas. No entanto, a sua perspectiva era correcta e quando em 1984 o mercado das T-Bonds explodiu, Bielfeldt estava perfeitamente posicionado para apanhar o uptrend que se seguiu e que durou até 1986. Foi construindo uma posição longa muito grande e a sua perspectiva de longo prazo permitiu-lhe obter uma mais-valia muito superior à que uma grande parte dos seus colegas conseguiria. Foi a sua melhor transacção e transportou-o para um novo estrato, ao nível dos grandes investidores institucionais.
Bielfeldt desenvolveu o seu próprio sistema de tranding (que privilegia os sinais de saída de determinada posição), mas prefere sempre seguir o seu julgamento. Considera que os bons sistemas de trading são desenhados tendo em vista uma perspectiva de médio/longo prazo, o que não acontece na grande maioria, que despoleta sinais a mais, tornando incomportáveis os custos de transacção (comissões). Gary Bielfeldt afirma mesmo que o erro mais cometido pelos traders o “overtrade”, o que significa que têm de estar correctos muitas vezes só para cobrirem as comissões. Na sua opinião, as principais características de personalidade de um trader de sucesso são disciplina, paciência, coragem (para assumir posições muitas vezes contrárias à prevalecente no mercado) e predisposição/disponibilidade para assumirem perdas.
No final da entrevista, Bielfeldt fez uma interessante analogia entre transaccionar e jogar poker. No poker deve-se jogar tendo em mente o conceito das probabilidades. Nunca se devem jogar todas as “mãos” porque se se o fizer existirá uma maior probabilidade de perder. Devem-se jogar apenas as boas “mãos” e sair do jogo quando as “mãos” são más (assumindo a perda correspondente à aposta de abertura. Quanto maior for o número de cartas em jogo quanto mais forte for a nossa “mão”, maior é a probabilidade de se ganhar. É nestas alturas que se deve subir a nossa aposta até ao máximo possível. De acordo com o entrevistado se se aplicar este princípio ao trading, podemos aumentar as nossas probabilidades de sucesso. Paciência é necessária para esperar pela oportunidade ideal para entrar no mercado (é necessário esperar pela mão boa). Se uma uma transacção (mão) não se revelar correcta é melhor sair e assumir uma pequena perda (sair e assumir a perda da aposta inicial). Por outro lado, quando parece que a abertura de posição foi correcta (quando a mão é boa) deve-se ser agressivo e e construir uma posição de forma a alavancar ao máximo o ganho potencial (deve-se subir a aposta ao máximo de forma que se a nossa mão é realmente a melhor da mesa, o nosso ganho seja o maior possível).

Nenhum comentário:

Postar um comentário