terça-feira, 25 de outubro de 2011

AS MIL FACES DE GERMAN

German Efromovich fez um gigantesco império e seus negócios não têm fronteira

O sol de verão já se pôs no Rio de Janeiro, e o empresário German Efromovich olha pela janela de seu escritório no 34º andar de um edifício no centro da cidade. De lá, avista a pista do Aeroporto Santos Dumont, observa uma aeronave Brasília aterrissar e declara sorrindo, depois de se certificar das horas em seu relógio de ouro: “A Ocean Air sempre chega no horário”. Coisa de pai coruja. A Ocean Air, pequena companhia aérea regional, é a filha caçula de seu grupo de negócios. Criada há apenas 18 meses, no auge da depressão do setor aéreo, mantém uma taxa de ocupação de quase 80%. “A crise é o melhor momento para se iniciar um negócio”, diz ele. Ao longo do expediente, Efromovich olha, de tempos em tempos, pela ampla vidraça atrás da mesa de trabalho. De lá, possui uma visão quase completa de suas operações. Além do aeroporto, ele enxerga os navios na Baía de Guanabara – e ele tem negócios na área de construção naval. Pode vislumbrar ao longe uma plataforma petrolífera – e ele as constrói, instala e
presta manutenção. Efromovich também explora petróleo no
Brasil, no Equador e na Colômbia. Nos dois países vizinhos tem
como sócio a Prime, empresa texana pertencente ao grupo Elliot. No total, recolhe por dia 5 mil litros de óleo e pretende multiplicar esse número por 10 até o final de 2004. Não é só: Efromovich monta infra-estrutura para telefonia em Miami, extrai gás natural no Texas e está pronto para construir três PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas). Sua corporação, a Marítima, estende os braços por outros nove países. Por ano, movimenta US$ 200 milhões e emprega mais de 5 mil pessoas.

Mas a verdadeira mina de dinheiro para Efromovich pode
ser vista pela janela do outro lado do andar, de onde se
observa o edifício da Petrobras. Efromovich está envolvido numa rumorosa briga judicial com a estatal. Se levar a melhor, pode embolsar até US$ 2 bilhões, segundo seus cálculos. São
dezenas de processos. Mas tudo diz respeito a dois contratos: um para a prestação de serviços de perfuração; outro para a construção de quatro plataformas petrolíferas. O primeiro contrato foi rompido, segundo Efromovich, antes do prazo permitido. Essa iniciativa da Petrobras, diz ele, secou as linhas de crédito para a Marítima e afastou os fornecedores. Todas as plataformas foram entregues, inclusive a fatídica P36 que foi a pique no início de 2001. Efromovich faz parte daquela estirpe de empresários que vive à margem do universo empresarial que circula nas páginas econômicas de jornais e revistas. Seu nome não aparece nas listas de grandes empresários brasileiros ou nas diretorias de associações de classe. Desconhecido do grande público, suas opiniões não estão estampadas em artigos publicados na imprensa. Falta a ele o verniz que caracteriza os homens de negócios mais badalados. Seu estilo é definido por alguns conhecidos como “arromba festa”. “Ele entrou em setores dominados por grandes grupos e ganhou espaço, sem muitas sutilezas”, diz um empresário. “É um centroavante trombador, mata na canela, mas faz gols sem parar.”


No caso da aviação comercial, por exemplo, ele aproveitou o vácuo deixado pelas grandes companhias para criar a Ocean Air. Hoje, possui quatro aeronaves. Até final do ano, serão 13 aviões para atender 30 cidades em 10 Estados brasileiros. O voluntarismo tornou Efromovich um colecionador de conflitos. Contra o ex-diretor da Petrobras José Barbosa Coutinho, ele dispara fogo pesado (leia o quadro “Já na Petrobras ...”). Outro desafeto é Nelson Tanure. Dele, Efromovich não gosta de falar. “Não tenho relação com esse senhor, não disputo nada com esse senhor e não conheço os negócios desse senhor”, afirma. “E também não o respeito.” Os motivos das desavenças não são explicitados
nem por um, nem por outro, mas teriam origem quando Efromovich negociou a compra do Estaleiro Verolme, então pertencente a Tanure. O negócio não foi em frente, mas a inimizade entre eles não parou de avançar.


Campo nazista. Efromovich explica o estilo “bloco de um homem só” com sua própria história. “Minha família era pobre”, diz. “Sempre tive de buscar meu próprio dinheiro.” Essa história começa na Polônia às vésperas da II Guerra Mundial. Lá, o avô cavou a própria cova antes de morrer com um tiro na nuca num campo de concentração nazista. A mulher e os filhos tiveram o mesmo destino. O pai de Efromovich só escapou porque fugiu para a Rússia. Lá conheceu a futura mulher e imigrou para a Bolívia, onde German nasceu. Depois de uma passagem pelo Chile, a família desembarcou em São Paulo. Ele naturalizou-se brasileiro. Desde os 13 anos, mergulhou no trabalho. Vendeu enciclopédias e fundos de investimentos. O domínio do espanhol o levou a dublar filmes da AIC, que vendia as fitas para a América Latina. Durante o curso de engenharia mecânica, abriu um supletivo em São Bernardo do Campo. Nas carteiras de suas salas de aula, sentou um metalúrgico chamado Luiz Inácio da Silva, o Lula, atual presidente da República. “Às vezes, nos encontrávamos na porta de fábricas”, conta Efromovich. “Ele fazendo panfletagem sindical e eu, panfletagem do cursinho.”
Assim que se formou, Efromovich abriu uma empresa de testes de estrutura. À noite, trabalhava em obras e examinava estruturas de construções industriais. Durante o dia, tocava a área administrativa da empresa e visitava clientes. “Faltava dinheiro para tudo”, diz ele. “Certa vez, meu irmão levantou um financiamento para comprar meu carro, mas o dinheiro foi para a folha de pagamento.” Em uma das viagens aos EUA, Efromovich levou apenas US$ 330 para 15 dias de estadia. Durante o dia, marcava reunião com os possíveis parceiros no saguão de hotéis de luxo, como o Sheraton e o Hilton, embora não estivesse hospedado ali. “Eu chegava uma hora antes do horário para não ser desmascarado”, recorda. Depois do expediente, ia para restaurantes lavar pratos e levantar alguns trocados. Efromovich voltou para o Brasil com diversas parcerias com empresas americanas. Era a gênese da Marítima. Nas décadas seguintes, empurrado por um bocado de brigas e algumas boas sacadas, Efromovich tornou-a em negócio polêmico e milionário.

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