Michael Marcus é um dos traders mais bem sucedidos do mercado. Mas engana-se se pensa que o sucesso deste “trader” foi imediato. Michael Marcus teve uma formação académica com distinção tendo sido sempre um dos melhores alunos pelos sítios em que passou. Formou-se em Psicologia e provavelmente teria seguido a carreira de professor universitário caso não tivesse conhecido um amigo de um amigo que lhe disse: “consigo duplicar o teu dinheiro de duas em duas semanas”. Sem ponderar muito o que estava a fazer, Michael Marcus contratou o amigo do seu amigo por cerca de 30 dólares por semana para ser o seu “Commodity Trading Advisor” (conselheiro de investimento em futuros).
Fez a sua primeira transacção num mercado de futuros no ano de 1969 e não percebia minimamente o que estava a fazer. Comprou um contrato de futuros de soja, sem saber o valor global do contrato e sem saber nada sobre produtos derivados. Apenas sabia que por cada “tick” que a cotação caísse perdia um certo valor. Quando fechou a posição (vendeu um contrato) registou uma perda de 100 dólares, o que em 1969 era já uma quantia considerável. As duas transacções seguintes também resultaram em perdas (milho e trigo). A quarta transacção resultou em ganho, mas ao fim de três dias já tinham voltado ao início. Apesar de ser totalmente inexperiente, Michael Marcus, sempre que se via a perder 100 dólares fechava a posição, ou seja, já aí tentava ser disciplinado. Comicamente, Marcus afirma que “media o sucesso pelo número de dias que demorava a perder o dinheiro”. Após a quinta aposta, Michael Marcus perdeu os 1,000 dólares com que tinha começado e via-se assim, na falência. Apesar de todo este insucesso inicial, nunca se deixou convencer de que o “trading” não era para ele. Assim, levantou o dinheiro do seguro de vida que o pai lhe havia deixado em herança, 3,000 dólares, e começou a estudar os mercados de soja, milho, trigo e outros cereais de forma a conseguir transaccionar futuros com algum conhecimento a nível teórico. Baseado numa recomendação de uma “newsletter” que havia subscrito, comprou, no Verão de 1970, três contratos de Dezembro de milho. Nesse Verão, o míldio (doença/praga) arrasou as colheitas e o preço dos futuros de Dezembro disparou. Marcus foi aumentando a sua exposição em cereais e no início do Outono a sua conta estava já com 30,000 dólares. Em Dezembro de 1970 abandonou a escola e lançou-se definitivamente na “carreira de especulador”, mudando-se para NYC. Na Primavera de 1971, Marcus apostou todo o seu dinheiro (30,000 dólares), mais 20,000 que pediu emprestados à sua mãe, na compra de contratos de trigo e milho, baseando-se na premissa que o míldio havia sobrevivido ao inverno. Aplicou em margens 50,000 dólares e aprendeu, mais tarde, a maior lição da sua vida. Num certo dia o Wall Street Journal publica uma notícia com o seguinte título “Mais míldio no CBOT (Chicago Board of Trade) do que nos campos de milho do Midwest”. Rapidamente os futuros de todos os cereais caem abruptamente e encerram “limit-down” (os contratos de futuros têm um limite diário de variação de preço). Existia um número enorme de vendedores e virtualmente não existiam compradores. O preço caía a pique e Marcus não conseguia reagir. Em vez de tentar encerrar logo as suas posições, deixou-as abertas e apenas as encerrou no dia seguinte. Quando o fez, tinha perdido todo o seu dinheiro (30,000 dólares) e mais 12 mil dos 20,000 que havia pedido emprestado à sua mãe. Com esta perda aprendeu uma das grandes lições – nunca apostar tudo numa só ideia de “trading”. Depois de ficar sem ninguém que lhe emprestasse dinheiro, Marcus teve de arranjar um emprego como «Commodity Research Analyst”.
Em 1972, Michael Marcus voltou ao mercado depois de conseguir juntar 700 dólares. Abriu uma conta com um amigo e começou novamente a transaccionar. O arranque foi custoso, mas depois de algumas transacções no mercado de futuros de contraplacado de madeira, conseguiu subir a sua conta para 12 mil dólares e depois de uma fase de altos e baixos, conseguiu acumular 24,000 dólares. Nessa altura, um dos grandes “bull markets” da história “podiam-se cometer muitos erros, e mesmo assim, ganhar muito dinheiro”, reflectindo o facto de se estar num mercado com clara tendência de alta. Marcus recorda-se de que um dos momentos mais difíceis da sua carreira ocorreu quando saiu cedo demais de uma posição longa em futuros de soja e viu o mercado a fechar “limit-up” vários dias consecutivos sem conseguir entrar. Considerou essa como uma das piores experiências da sua vida. Apercebeu-se também que o ambiente competitivo em que vivia era muito forte e resolveu sair da empresa em que trabalhava para se afastar desse ambiente. Recorda-se perfeitamente da altura em que tomou essa decisão. A conselho de Ed Seykota (trader que também é entrevistado no livro e um dos seus grandes gurus), compra contratos de futuros de café, mas coloca uma “stop” um pouco abaixo. O mercado vira e Marcus sai rapidamente da sua posição enquanto que Seykota não consegue encerrar as suas posições, pois o mercado abre vários dias consecutivos em “limit down”. Quando dá conta da felicidade que sentia por estar fora dessa transacção, resolve abandonar o seu local de trabalho e ir em 1973 para “floor trader” na New York Cotton Exchange. Como eram necessários 100 mil dólares para iniciar a actividade no “pit” desta bolsa e apenas possuia 64 mil, continua a transaccionar nos mercados habituais e acabou por angariar essa quantia. Apesar de reconhecer que a experiência de “floor trader” foi um pouco fracassada – não se conseguia fazer ouvir no “pit”, dada o seu carácter reservado e tímido -, Marcus considera que foi muito frutífera em termos de análise de gráficos intraday, pois aprendeu a reconhecer “breakouts” significativos muito mais rapidamente.
Depois de abandonar a sua carreira como “floor trader”, Michael Marcus foi contratado pela prestigiada Commodities Corporation. Esta empresa, que tinha nos seus quadros gente como Paul Samuelson, apenas contratava profissionais com o grau de “Doutor”. Marcus foi o primeiro sem esse estatuto a entrar para o lugar de “trader” nesta empresa. Começou com uma conta de 30,000 dólares e ao fim de 10 anos, a sua conta ascendia a 80 milhões de dólares. Mais impressionante é ainda o facto de que durante todos estes anos, anualmente, 30% do valor da conta era levantado, o que quer dizer que durante vários anos obteve rentabilidades anuais superiores a 100%. De todos estes anos Marcus recorda dois episódios, um positivo e um negativo. Numa dada altura, estava a transaccionar na California, e por isso, estava acordado quando soube da notícia da invasão do Afeganistão por parte da URSS. Telefonou para Hong Kong, cujo mercado de futuros estava aberto e apercebendo-se que ninguém sabia do acontecimento comprou 2,000 contratos de futuros de ouro. Nessa altura, o ouro atravessava um grande “bull market” e esta notícia fez com que a onça de ouro subisse ainda mais. Ganhou vários milhões de dólares em muito pouco tempo, o que fez o ano de 1979 o grande ano de glória da sua carreira. Declarou mais tarde que foi a primeira e a única vez que ganhou dinheiro com base numa notícia. A pior experiência desses dez anos aconteceu quando se viu a perder 2.5 milhões de dólares quando especulava na subida do marco e o Bundesbank entrou no mercado a divisa de então República Federal da Alemanha. Viu a cotação cair, fechou as posições quando perdia 2.5 milhões de dólares e viu a cotação cair ainda mais, até um valor em que se tivesse a sua posição aberta, perderia 10 milhões de dólares. Depois, em pouco mais de meia hora viu a cotação do marco recuperar até ao nível inicial. Mesmo assim, este investimento não foi aquele em que Marcus perdeu mais dinheiro. Marcus revelou-se um aplicador de poupanças muito mal sucedido. Comprou mais de 10 casas e uma companhia de “charters”, revelando-se estes investimentos, todos desastrosos. Até que um dia decidiu vender tudo. Durante os anos mais difíceis, Michael Marcus “refugiou-se” em futuros do cacau, um mercado no qual transaccionava e conhecia melhor que ninguém.
Quando perguntado se considerava necessário ter qualidades inatas para se ser um “trader” excepcional, Marcus respondeu afirmativamente, mas também considerou ser possível, com trabalho árduo, ser competente e ganhar dinheiro. Marcus chega a afirmar, bastante humildemente até, que em meados dos anos 70 considera que não fez nada de especial, porque se viveu um período de mercados extremamente “bullish” em que bastava ficar longo e esperar para se ganhar muito dinheiro.
Os maiores conselhos que Marcus dá a quem deseja optar por uma carreira de “trader” são:
- aplicar apenas 5% do seu capital disponível numa ideia de trading. Marcus considera que, por exemplo, ficar longo em dois mercados relacionados (milho e trigo) é apenas uma ideia e não duas;
- estabelecer sempre “stops loss” imediatamente na abertura da posição;
- à mínima dúvida acerca da posição que se acabou de abrir, encerrar;
- não entrar no mercado só porque não se quer estar fora;
- parar para pensar quando se está num mau momento;
- não copiar estratégias e estilos de trading de outros e ter ideias próprias;
- não ser ganancioso quando se está a ganhar e cortar as perdas;
- estar atento aos sinais dados pelo mercado. Isto é, quando é suposto o mercado reagir de uma determinada forma e acaba por reagir da forma contrária, pode ser mau sinal;
- não acreditar em mitos como “há uma conspiração no mercado” e acreditar que não há ninguém (pessoa ou instituição) capaz de manipular o mercado.
Michael Marcus conseguiu ganhar muito dinheiro ao longo da sua carreira através de métodos que na altura estavam ao dispor de muito poucos. Como o próprio afirma: “Estávamos na bolsa, viamos o preço ultrapassar um ponto-chave do gráfico e comprávamos. No dia seguinte a pessoas que trabalham nas bolsas compravam e o preço subia mais. Ao terceiro dia, as corretoras recomendavam a compra e os preços continuavam a subir, até que nos dias seguintes eram “os dentistas espalhados pelo mundo que compravam”. Como o próprio reconhece: “era um dos primeiros a comprar e vários dias depois vendia aos dentistas”. Hoje em dia, como muito gente já partilha dos mesmo pontos de vista, como existem muitos mais “trend followers” e como a informação circula muito mais rapidamente é muito mais complicado fazer dinheiro. Para além disso, os intervenientes no mercado são quase sempre profissionais e os “dentistas do mundo” preferem comprar unidades de participação em fundos de investimento mobiliários. Marcus acrescenta que devido à existência de cada vez mais falsos “breakouts”, os sistemas computorizados de trading (“trend followers”) estão votados à mediocridade, exceptuando os casos em que existem forças estranhas, como por exemplo, grandes ambientes inflacionários ou deflacionários. Marcus dá o exemplo actual do mercado de divisas. Agora, afirma ele, é quase impossível definir uma tendência em determinado câmbio, porque os bancos centrais assumem, normalmente, a posição contrária à do mercado. É preciso adivinhar o que é que os bancos centrais vão fazer. Michael Marcus considera que a transacção de divisas é uma actividade extremamente stressante, já que é um mercado que funciona 24 horas por dia. Ir para a cama com posições abertas é sinónimo de uma noite mal dormida.
Nos últimos anos da sua carreira, Michael Marcus começou a transaccionar acções, mas não mudou o seu estilo, continua à procura de sinais técnicos, fundamentais e de mercado para entrar no título, mas afirma preferir sempre mercados em que não existem muitos tubarões. Prefere transaccionar acções do OTC (Over the Counter) do que do Dow Jones. Michael Marcus finaliza afirmando que quem consegue transaccionar num mercado, consegue transaccionar em todos, pois os princípios são os mesmo. «”Trading” é emoção. É psicologia de massas, ganância e medo.» E isto é tudo comum a qualquer mercado.
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