Todos têm aquilo que querem”
“Embora completamente desconhecido, não apenas do público, mas também da maioria da comunidade financeira, Ed Sekyota – pelos seus resultados – deve ser considerado um dos melhores “traders” dos nossos dias. No início dos anos 70, Sekyota foi contratado por uma corretora. Ele concebeu e desenvolveu o primeiro sistema comercial de “trading” computadorizado para gerir o dinheiro de clientes no mercado de futuros. O seu sistema provou ser bastante rentável, mas as interferências dos gestores nas decisões do sistema prejudicaram a sua rentabilidade. Esta experiência serviu como catalizador para Sekyota voltar à sua cidade.
Nos anos que se seguiram, Sekyota aplicou o seu sistema na gestão de algumas contas que geria, incluindo o seu próprio dinheiro. Durante esse período, as contas geridas por Sekyota tiveram uma rentabilidade absolutamente inacreditável. Por exemplo, em 1988, a conta de um dos seus clientes – que tinha começado em 1972 com 5000 dólares – tinha crescido mais de 250 mil por cento. Não conheço nenhum outro “trader” que tivesse alcançado estes números em igual período de tempo.
Eu nunca tinha ouvido falar em Ed Sekyota quando comecei a escrever este livro. O nome de Sekyota surgiu várias vezes durante a minha entrevista a Michael Marcus como a pessoa que mais o influenciou na sua transformação para um “trader” de sucesso. Depois da nossa entrevista, Marcus disse-me, “Você devia mesmo entrevistar Ed Sekyota. Ele não é apenas um grande “trader”; ele é uma mente brilhante.”
Marcus fez uma introdução via telefone e eu, rapidamente, expliquei o conceito do meu livro a Sekyota. Como já estava na costa oeste, era mais conveniente para mim entrevistar Sekyota na mesma viagem, fazendo o meu regresso a New York, via Reno. Sekyota acedeu a participar mas mostrou-se céptico quanto à minha capacidade para completar a entrevista no espaço de duas horas (o tempo de que eu dispunha entre os meus voos). Assegurei-o que, embora fosse apertado, que já tinha feito outras entrevistas nesse espaço de tempo. “É possível desde que mantenhamos a nossa conversa centrada no que é importante”, expliquei eu.
A minha chegada ao aeroporto foi atrasada porque me tinha esquecido de fazer a revisão do meu bilhete de forma a reflectir a mudança do meu itinerário. Depois de uma ruidosa troca de argumentos com uma funcionária do aeroporto que insistia que eu não tinha tempo para apanhar o meu voo – algo que ela quase ia conseguindo que acontecesse -corri pelo aeroporto, entrando na porta de embarque uns segundos antes dela ser encerrada. Quando cheguei a Reno, toda esta tensão de quase ter perdido o voo tinha-se dissipado. O caminho para a casa de Sekyota era demasiado longo para um táxi, por isso aluguei um carro. A manhã tinha nascido há pouco e o caminho por entre as montanhas oferecia fantásticas vistas lá para baixo. A estação de rádio de música clássica onde me tinha sintonizado tocava o Concerto de Clarinete de Mozart. A combinação era gloriosa.
Sekyota trabalha num escritório em casa, junto ao lago Tahoe. Antes de iniciar a entrevista, demos um breve passeio na praia atrás de sua casa. Estava frio, uma manhã sem nuvens e a paisagem era idílica. O contraste entre o seu local de trabalho e o meu – um escritório na zona de Wall Street, com vista para um horrível edifício – era enorme. Senti-me culpado por tamanha inveja que me invadiu.
Contrastando com todos os outros “traders” que eu tinha entrevistado, a secretária de Sekyota não estava cheia de vários ecrãs com cotações. Aliás, nem vi sequer um único ecrã com as cotações em tempo real. A sua observação do mercado era apenas confinada aos breves minutos que demorava a fazer correr o seu programa de computador que gerava sinais para o próximo dia de mercados.
Na minha conversa com Sekyota, fiquei impressionado com a sua inteligência e sensibilidade- uma combinação impar. Ele tinha uma forma de olhar para as coisas absolutamente única. A determinado momento poderia estar a falar de análise técnica e pareceria um perfeito cientista (Sekyota era licenciado em Engenharia Eléctrica), mostrando um diagrama tridimensional no ecrã do computador, gerado por um dos vários programas que ele concebeu. Mas num outro momento, quando a conversa mudasse o seu curso para a psicologia do “trading”, poderia revelar uma enorme sensibilidade e conhecimento sobre o comportamento humano.
Na verdade, nos últimos anos, Sekyota esteve bastante envolvido no campo da psicologia. Pareceu-me que a psicologia, e a sua aplicação de forma a ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas, se tornaram um elemento mais importante na sua vida do que a análise do mercado e o “trading”.
A nossa conversa não foi tão focalizada como eu tentei que fosse. De facto, vagueou em tantas direcções que fez com que, nas duas horas que tinha para fazer a entrevista, apenas tivéssemos tocado superficialmente no essencial daquilo que queria falar com Sekyota. Continuei a conversa, partindo do princípio que apanharia um voo mais tarde. Depois vim a saber que o voo que eu tinha perdido era o último do Reno para New York.
Sekyota disse-me, mais tarde, que desde a nossa primeira conversa telefónica sabia que eu acabaria por lá passar o dia inteiro. Ele era extremamente perceptivo em relação às pessoas. Por exemplo, a dado ponto da nossa conversa, Sekyota perguntou-me, “De quantos em quantos minutos olha para o relógio?”. Eu achei particularmente notável que, no breve tempo em que estivemos juntos, ele tivesse sido capaz de descobrir um dos meus traços de carácter básicos.
O sucesso de Sekyota vai bem além do “trading”. Impressionou-me como alguém que tinha descoberto o significado da sua vida e vivia exactamente a sua vida como a queria viver.
Como se começou a envolver no “trading”?
No final dos anos 60, achei que a prata tinha que subir quando o Tesouro Americano parou de a vender. Abri uma conta margem de mercadorias para tirar o máximo partido da minha convicção. Enquanto esperava, o meu corretor convenceu-me a abrir uma posição curta sobre o cobre. Fui rapidamente “stopado”, perdendo algum dinheiro e a minha virgindade no “trading”. Então, voltei a esperar pelo início do grande e inevitável “bull market” na prata. Finalmente, o dia chegou. E eu comprei. Para meu grande espanto e desgraça financeira, o preço começou a cair!
No início, parecia-me impossível que a prata pudesse cair depois daquela notícia tão “bullish”. Contudo, o preço continuava a cair. O meu “stop” foi rapidamente activado. Esta foi a mais chocante educação que eu poderia ter recebido sobre a forma como os mercados descontam as notícias. Fui ficando cada vez mais fascinado pela forma com os mercados funcionam.
Nessa altura, li um texto escrito por Richard Donchian, em que ele defendia que um sistema puramente mecânico seguidor de tendências conseguia bater o mercado. Isso parecia-me impossível. Então, escrevi programas de computador para testar as teorias. Surpreendentemente, as teorias testadas revelaram-se acertadas. Nessa altura, não estava seguro de perceber o porquê desse acerto. De qualquer forma, estudar os mercados e comprovar as minhas opiniões ganhando dinheiro era tão fascinante comparado com as minhas oportunidades de emprego nessa altura, que decidi começar a negociar a tempo inteiro para tentar ganhar a vida.
Qual foi o seu primeiro emprego relacionado com o “trading”?
O meu primeiro emprego em Wall Street no início dos anos 70 foi numa corretora. Fui contratado para cobrir o mercado dos ovos e dos broilers. [ Broilers são galinhas jovens] (…) Achei interessante que um tipo inexperiente como eu fosse imediatamente colocado num lugar de aconselhamento de “trading”. A certa altura, escrevi um artigo recomendando aos “traders” para ficarem longe do mercado durante uns tempos. Os meus superiores censuraram o comentário porque não incentivava o “trading”.
Quis começar a aplicar os computadores no trabalho de análise. Recordo que nessa altura os computadores eram tipicamente usados como dispositivos para controlar as contas. O responsável do departamento dos computadores parecia ver-me como uma ameaça ao seu trabalho e tentava sempre manter-me afastado dos computadores. Passado um mês, anunciei a minha demissão. O chefe do departamento falou comigo para saber o porquê da minha decisão. Foi a primeira vez que se mostrou interessado em falar comigo.
Arranjei outro emprego numa corretora que estava a fazer uma reorganização. Havia menos controlo, por isso, aproveitei-me da falta de supervisão para usar o computador aos fins-de-semana, testando os meus sistemas de “trading”. Eles tinham um IBM 360, o que os obrigava a terem uma enorme sala de ar condicionado. Depois de meio ano, estava em condições de testar cerca de uma centena de variações de quatro sistemas simples para 10 anos de dados de 10 mercadorias. Hoje, o mesmo trabalho, demora cerca de um dia num qualquer normal PC. De qualquer das formas, obtive os meus resultados e estes confirmaram a possibilidade de se fazer dinheiro com um sistema seguidor de tendências.
Presumo que testar sistemas no computador não fosse parte do seu trabalho, por isso o fazia durante os fins-de-semana. Tinha sido contratado para fazer o quê?
Durante a semana, o meu trabalho de “Clark Kent” era recolocar novos rolos de papel na máquina da Reuters quando as margens ficavam cor-de-rosa. Era também responsável por arrancar rapidamente as notícias da máquina e pendurá-las na parede que estava por debaixo das máquinas. O mais engraçado é que era difícil alguém ler as notícias pois tinham que se baixar para poderem ler as notícias que estavam afixadas debaixo das máquinas. Então comecei a ler as notícias e a transmiti-las pessoalmente aos corretores. Uma das recompensas deste trabalho é que pude observar estilos diferentes de negociação dos corretores.
A sua posição oficial na empresa parece-me a de um glorioso rapaz de recados. O que o levou a aceitar um trabalho tão subalterno?
Porque sabia que queria estar naquele negócio e não queria saber o que tinha que fazer ou pagar para lá estar.
Então porque não ficou com o seu primeiro emprego? Pelo menos, era um analista.
Porque era um ambiente ridículo. Eu discordava da pressão dos meus superiores no sentido de eu recomendar negócios, quando eu achava que não existiam oportunidades de negócios. Além disso, vi que conseguir ter acesso aos computadores da empresa para testar os meus sistemas de “trading” (o meu verdadeiro objectivo) era praticamente impossível.
E você sabia que iria poder ter acesso ao computador no seu novo emprego?
Não, mas como a companhia estava a sofrer uma profunda remodelação e a Administração anterior tinha sido despedida, calculei que não deveria haver muita burocracia para me impedir o acesso ao computador.
O que é que resultou do seu trabalho nos sistemas computadorizados de “trading”?
A Administração começou a mostrar-se interessada em usar os resultados do meu sistema para gerir dinheiro e eu desenvolvi o primeiro sistema computadorizado de “trading” para negociar em grande escala.
O que é que quer dizer em grande escala?
O programa era usado por centenas de corretores da firma que tinham sob as suas ordens vários milhões de dólares- uma quantia muito elevada no início dos anos 70.
Como é que obteve apoio da Administração para suportar a sua investigação até esse ponto?
Eles estavam familiarizados com Richard Donchian que foi o pioneiro no desenvolvimento de sistemas de “trading” seguidores de tendências, embora, a certa altura, ele estivesse a fazer tudo à mão. Por causa deste conhecimento, estavam abertos ao conceito de usar sistemas de “trading” para gerir dinheiro. Além disso, nessa altura, os computadores eram tão novos que a expressão “Sistema computadorizado” era uma expressão entusiasmante.
Como se portou o seu programa de “trading”?
O programa portou-se bem; o problema é que os gestores não resistiam aos impulsos da sua intuição. Por exemplo, recordo-me uma vez que o programa gerou um sinal de compra para o açúcar quando ele estava a negociar a cerca de 5 cêntimos. Os gestores pensaram que o mercado estava demasiado “sobrecomprado” e decidiram não seguir o sinal. Quando o mercado continuou a subir, decidiram que iriam seguir a regra de comprar na primeira retracção de 20 pontos [100 pontos igual a 1 cêntimo]. Não ocorrendo nenhuma retracção, decidiram alterar a regra para comprar na primeira retracção de 30 pontos. Como o mercado continuou a subir, sem nenhuma retracção significativa, decidiram alterar a regra para 50 e depois para 100 pontos. Finalmente, com o preço do açúcar a rondar os 9 cêntimos, finalmente decidiram que o açúcar estava num “bull market” e que era melhor comprarem antes que subisse mais. Nesta altura, abriram posições longas nas várias contas dos clientes. Como já devem estar a imaginar, o açúcar logo a seguir fez um topo. Eles ainda amplificaram o erro pois ignoraram também o sinal de venda – um sinal que teria sido também muito rentável.
A conclusão é que, devido a esta interferência, o negócio mais rentável do ano acabou por dar prejuízo. Em resultado disso, em vez de um retorno de 60% nesse ano, várias contas perderam dinheiro. Este tipo de intervenções foi uma das razões para que eu abandonasse.
Quais foram as outras razões?
A Administração queria que eu alterasse o sistema de forma a que ele negociasse mais activamente, gerando naturalmente mais comissões. Eu expliquei-lhes que seria muito fácil fazer essa alteração mas que isso teria importantes repercussões negativas na rentabilidade. Eles não pareceram importar-se muito.
O que fez depois de ter abandonado?
Apenas abandonei o departamento de “research”, pois continuei na corretora, gerindo contas de clientes. Passado dois anos, abandonei o papel de corretor para ser um gestor de carteiras. Essa mudança permitiu-me deixar de ganhar dinheiro através das comissões, o que eu acredito ser uma forma contraproducente de ganhar dinheiro para os clientes. Mudei para que os meus lucros viessem dos lucros dos meus clientes.
Continuou a negociar com base no sistema, depois dessa saída?
Sim, embora eu o revisse substancialmente ao longo dos anos.
Qual foi a sua folha de rentabilidade ao longo destes anos?
Não dou pormenores sobre a evolução da rentabilidade, a não ser dizer que um cliente que tenha começado com 5 mil dólares em 1972, tem agora mais de 15 milhões. Teoricamente, a rentabilidade total teria sido várias vezes maior se não tivessem existido levantamentos.
Com uma prestação desse calibre, não é bombardeado com propostas para gerir mais carteiras?
Eu recebo vários pedidos, mas raramente aceito novas contas. Quando aceito, apenas o faço depois de muitas entrevistas para determinar exactamente quais as motivações e atitudes do cliente. Descobri que essas características dos meus clientes afectam fortemente o meu desempenho. Se, por exemplo, eles estão dispostos a apoiar-me a mim e aos meus métodos durante o longo termo, têm tendência para me ajudarem. Contudo, se estiverem demasiado preocupados com os altos e baixos da sua conta no curto prazo, podem ser um obstáculo.
Quantas contas começou a gerir no início?
Cerca de meia dúzia no início dos anos 70.
Quantos desses clientes continuam ainda consigo?
Quatro. Um cliente ganhou 15 milhões de dólares e decidiu retirar o seu dinheiro para geri-lo ele próprio; outro ganhou 10 milhões e decidiu comprar uma casa na praia, reformando-se. “
“Que fontes de aprendizagem usou, antes de desenvolver o seu primeiro sistema?
Fui inspirado e influenciado pelo livro “Reminescences of a Stock Operador”, de Livermore, assim como pelo sistema de cruzamento das médias móveis de 5 e 20 dias de Richard Donchian e o seu sistema da regra semanal. Considero Donchian como o guia que iluminou as técnicas de “trading”.
Como era o seu primeiro sistema de “trading”?
O meu primeiro sistema era uma variação do sistema das médias móveis de Donchian. Eu usava um método de média exponencial porque era mais fácil de calcular e os erros de computador tendiam a desaparecer ao longo do tempo. Era tão inovador na altura que, ao passar de “boca em boca” as pessoas, por lapso, o chamavam de “sistema expedencial”.
A sua referência ao primeiro sistema tem implícito que, eventualmente, mudou de sistemas. Como percebeu que o seu sistema necessitava de ser mudado?
Os sistemas não necessitam de serem mudados. O segredo para o “trader” é desenvolver um sistema que seja compatível consigo mesmo.
O seu sistema original era incompatível consigo?
O meu sistema original era muito simples e tinha regras “rápidas e rígidas” que não permitiam nenhum desvio. Descobri que era difícil permanecer com esse sistema pois contrariava os meus próprios “feelings”. Estava constantemente a abrir e fechar posições- frequentemente na altura errada. Cheguei a acreditar que eu me portaria melhor que o sistema. Nessa altura, eu não acreditava verdadeiramente que os sistemas seguidores de tendências pudessem resultar. Existia imensa literatura a “provar” que não resultavam. Além disso, parecia-me um desperdício de inteligência apenas ficar de fora a observar e não tentar prever o movimento dos mercados. Contudo, à medida que ia ficando mais confiante a negociar a tendência e mais capaz de ignorar as notícias, comecei a ficar mais confortável com esta abordagem. Além disso, à medida que ia incorporando mais “regras de trading”, o meu sistema ia-se tornando cada vez mais compatível com o meu estilo de “trading”.
Qual é o seu estilo de “trading”?
O meu estilo é, basicamente, seguidor de tendências com alguns reconhecimentos de padrões especiais e de algoritmos de gestão de carteiras (“money management”).
Sem divulgar os segredos do “trading”, como foi capaz de superar espectacularmente os normais sistemas seguidores de tendências?
A chave para no longo prazo sobreviver e prosperar tem muito a ver com a incorporação das técnicas de gestão de carteiras nos sistemas técnicos. Há “traders” velhos e “traders” ousados, mas há muito poucos “traders” velhos e ousados.
Engraçado e verdadeiro, mas a questão mantém-se, embora de uma forma diferente: Há muitos sistemas seguidores de tendência com regras de gestão de carteiras; porque é que o seu tem muito mais sucesso?
Dá-me a sensação que tenho um dom natural. Penso que está relacionado com a minha filosofia de vida que tem muito a ver com o amor pelos mercados e por manter uma atitude optimista. Além disso, à medida que continuei a negociar e a aprender, o meu sistema continuou a desenvolver-se. Poderia acrescentar que considero que eu e a minha forma de fazer as coisas é uma espécie de sistema que por definição sigo sempre. Por vezes, negoceio ignorando completamente todas as indicações do sistema, outras vezes passo por cima de todos os sinais gerados pelo sistema devido aos meus “feelings” muito fortes. O resultado destes meus “desvios ao sistema” não são, em regra, positivos. Contudo, se eu não me permitir a liberdade de dar asas ao meu lado criativo, isto acaba por conduzir a uma explosão emocional.
Como compara as vantagens e desvantagens dos sistemas de “trading” em relação ao “trading” discricionário?
Os sistemas de “trading” são, em último caso, discricionários. O gestor continua a ter que decidir qual o risco que quer correr, que mercados quer negociar e qual o seu grau de agressividade no reforço ou redução da sua base de investimento em função da variação dos mercados. Estas decisões são muito importantes – talvez até mais importantes que o “timing” de negociação.
Que percentagem do seu “trading” é baseada no uso dos sistemas? Esta percentagem mudou ao longo dos tempos?
Ao longo dos tempos, tenho-me tornado mais mecânico, desde que (1) me tenho tornado mais confiante na negociação da tendência e (2) os meus programas mecânicos têm incorporado, cada vez mais, “truques do trading”. Continuo a ter períodos em que penso conseguir superar o meu próprio sistema, mas esses períodos costumam ser bons para eu emendar esses pensamentos, através da perda de dinheiro.
Qual é o presente e o futuro dos sistemas seguidores de tendências? Acredita que o crescente uso dos mesmos os irá conduzir ao falhanço?
Não. Todo o “trading” é feito com base num qualquer sistema, sendo consciente ou não. Muitos dos bons sistemas são baseados nas tendências. Os pássaros começam a dirigir-se para o Sul no Inverno e continuam ainda a fazê-lo. A rota das empresas tem uma tendência e os seus produtos modificam-se de acordo com ela.
A rentabilidade dos sistemas seguidores de tendência parece mover-se por ciclos. Períodos durante os quais os sistemas seguidores de tendência têm um elevado grau de sucesso conduzem-nos a um elevado grau de popularidade. À medida em que o número de utilizadores destes sistemas aumenta e os mercados passam de tendenciais a laterais, estes sistemas começam a não apresentar bons resultados e os “traders” com pouco capital e experiência começam a serem afastados do mercado. A longevidade é a chave para o sucesso.
Quais são os seus pensamentos acerca do uso da análise fundamental como um factor de decisão no “trading”?
Os fundamentais de que habitualmente ouvimos falar têm pouco interesse pois o mercado já os incorporou no preço, por isso chamo-lhes de “funny-mentals”. Contudo, se você acreditar neles, antes de os outros o fazerem, é provável que consiga uma valiosa “surprise-a-mentals”.
A sua resposta é um pouco brincalhona. Quer isto dizer que apenas usa a análise técnica?
Eu sou, preferencialmente, um “trader” de tendências com toques pessoais baseado em vinte anos de experiência. Por ordem crescente de importância para mim: (1) A tendência de longo prazo, (2) o actual padrão do gráfico e (3) encontrar um bom ponto de compra ou venda. Estas são as três componentes prioritárias do meu “trading”. A prazo, em quarto lugar, estão as minhas ideias fundamentais e, de uma forma geral, elas têm-me custado dinheiro.
Quando fala em “encontrar um bom ponto de compra ou venda” quer dizer em determinar um ponto de reacção no qual vai comprar? Se sim, como evita perder grandes movimentos de preço?
Oh, não. Se eu estivesse a comprar, o meu ponto estaria acima do mercado. Tento identificar um ponto no qual espero que o “momentum” do mercado seja forte na direcção do “trade”, de forma a reduzir o meu risco provável. Não tento encontrar o fundo ou um topo.
Isso implica que, se estiver “bullish”, espera sempre pela força no curto prazo antes de entrar numa posição ou, por vezes, compra na reacção?
Se eu estiver “bullish”, nunca compro na reacção nem espero pela força.; Eu já lá estou. Eu torno-me “bullish” no momento em que o meu ponto de entrada é atingido e continuo “bullish” até que o meu “stop” seja activado. Estar “bullish” e não estar longo é ilógico.
Já alguma vez usou a opinião contrária como uma ajuda ao seu “trading”?
Por vezes. Por exemplo, numa recente conferência sobre o ouro, todos os intervenientes estavam “bearish”. Disse para mim mesmo, “O ouro estará, provavelmente, perto de um fundo”. [ O ouro subiu, de fato, nos tempos que se seguiram a esta conferência]
Já alguma vez comprou com base neste tipo de informação?
Oh, não. A tendência continuou a ser de queda. Mas talvez me faça reduzir a minha posição curta.
Qual foi a sua experiência de “trading” mais dramática ou emocional?
Experiências dramáticas e emocionais de “trading” tendem a ser negativas. O orgulho é uma enorme casca de banana, assim como a esperança, o medo ou a ganância. Os meus maiores deslizes ocorreram logo a seguir a eu ter ficado emocionalmente envolvido com as minhas posições.
E que tal falarmos de algumas “histórias de guerra”?
Prefiro não repisar situações passadas. Tento cortar os maus negócios o mais rapidamente possível, esquecê-los e depois mover-me para novas oportunidades. Depois de ter concluído um péssimo “trade”, não gosto de voltar a relembrar os detalhes. Talvez uma noite, depois de um jantar, sentado ao redor de uma lareira, “off the record”, mergulhado no Inverno de Tahoe…
Pode descrever-me erros de “trading” específicos que aprendeu ao longo destes anos?
Tive uma atracção pela prata há uns anos atrás. Uma das minhas primeiras perdas foi na prata, assim como foram muitas das minhas maiores perdas. Parecia que estava no meu sangue e que me hipnotizava. Fui tantas vezes infeliz nos negócios que fiz com a prata que já começava a achar que eu era uma espécie de lobisomem. Comecei a trabalhar no meu interior através de hipnose e imagens mentais positivas. Também evitei andar em dias de lua cheia. E parece que deu resultado.
Como é que escolhe os seus “trades”?
A maioria é através do meu sistema de “trading”, embora ocasionalmente, tenha um impulso e passe por cima do sistema. Felizmente, geralmente não tomo, nestas circunstâncias, uma posição suficientemente grande que provoque estragos na minha carteira.
Quais são os elementos do bom “trading”?
Os elementos do bom “trading” são: (1) cortar as perdas, (2) cortar as perdas e (3) cortar as perdas. Se conseguir seguir estas três regras, você é capaz de ter uma hipótese.
Como é que você ultrapassa uma série de perdas?
Supero uma série de perdas diminuindo a minha actividade. Limito-me a esperar de fora. Tentar negociar durante uma série de maus negócios é emocionalmente devastador. Tentar apanhar o ritmo com o “comboio em andamento” pode ser letal.
Não deveria um seguidor de sistemas não alterar a sua actividade de “trading” durante os períodos de perdas?
Eu incorporei alguma lógica nos meus programas de computador, tal como adaptar a minha actividade de “trading” ao comportamento do mercado. Contudo, algumas decisões importantes têm de ser tomadas longe das rédeas do sistema mecânico, tais como manter uma diversificação numa conta em crescimento quando algumas posições estão no limite ou quando os mercados são demasiado ilíquidos.
Psicologicamente, tento alterar a minha actividade em função da minha performance. Tento ser mais agressivo depois de uma série de vitórias e menos depois das perdas. Estas tendências parecem-me OK. Em contraste, a tendência natural da maioria das pessoas é ser mais emocional depois de uma perda e tentar recuperá-la através do aumento da sua exposição no mercado.
Você é um “trader” que aprende por si mesmo ou tem outros “trader” lhe ensinam lições valiosas?
Sou um “trader” que aprende por si mesmo e que está constantemente a estudar tanto a mim mesmo como a outros “traders”.
Decide quando vai sair antes sequer de entrar num “trade”?
Estabeleço “stops” de protecção ao mesmo tempo que abro uma posição. Geralmente, movo esses “stops” de forma a proteger os ganhos à medida que a tendência continua. Por vezes, realizo mais valias quando o mercado fica louco. Isso na maioria das vezes não me traz melhores resultados do que esperar que a posição seja fechada nos meus “stops”, mas diminui a volatilidade da carteira, o que ajuda a acalmar os meus nervos. Perder numa posição é mau, enquanto perder a calma é devastador.
Qual é a percentagem máxima que está disposto a perder em cada “trade”?
Tento definir um risco abaixo dos 5% por “trade”. Ocasionalmente já tive perdas superiores a esta percentagem quando grandes notícias fizeram com que um ilíquido mercado saltasse por cima dos meus “stops”.
Muito poucos “traders” tiveram o espectacular sucesso que você tem. O que faz de si diferente?
Penso o meu sucesso vem do meu amor pelos mercados. Não sou um “trader” ocasional. É a minha vida. Tenho paixão pelo “trading”. Não é um mero passatempo ou mesmo uma escolha de carreira. Não há dúvida que é exactamente aquilo que eu quero fazer na minha vida.”
Quais são as suas regras de “trading”?
a) Seguir as regras sem as questionar.
b) Cortar as perdas.
c) Deixar correr os ganhos.
d) Manter as apostas baixas.
e) Saber quando quebrar as regras.
As suas últimas duas regras são um bom golpe pois são contraditórias. Agora a sério, no que é que você acredita? Seguir as regras ou saber quando as quebrar?
Eu acredito em ambas. Geralmente, sigo as regras. À medida que vou estudando os mercados, por vezes, descubro uma nova regra que substitui uma antiga regra. Às vezes, atinjo um ponto de indecisão pessoal. Quando isso acontece, saio do mercado durante uns tempos e tiro umas férias até sentir que estou preparado para seguir as regras de novo. Talvez um dia, terei uma regra mais explícita para quebrar as regras.
Não acredito que os “traders” consigam seguir as regras durante muito tempo, a menos que elas reflictam o seu estilo de “trading”. Eventualmente, um ponto de indecisão é alcançado e um “trader” tem que desistir ou descobrir um novo conjunto de regras que ele pode seguir. Isto parece fazer parte do processo de evolução e crescimento de um “trader”.
Qual é a importância do “feeling”?
O “feeling” é importante. Se ignorado, pode exteriorizar-se através de formas subtis de colorir a sua lógica. Mas pode ser desmontado através da meditação e reflexão para determinar o que está por trás dele. Se persistir, é bem provável que seja uma importante análise subconsciente com informação subtil. De qualquer das formas, pode ser uma sublimação perigosa de um desejo interior de excitação e não reflectir as condições do mercado. Seja sensível para distinguir as diferenças subtis entre “intuição” e “adivinhação”.
Qual foi o seu pior ano? O que correu mal?
Um dos meus piores anos foi 1980. O “bull market” tinha terminado, mas continuei a tentar aguentar e reforçar a mais baixos preços. Os mercados continuaram a cair. Eu nunca tinha visto um “bear market” antes, por isso acabou por ser uma experiência educacional importante.
O que aconteceu às suas regras de gestão de carteiras no seu sistema em 1980? Passou por cima delas?
Continuei a negociar, embora o meu sistema estivesse claramente fora do mercado devido à enorme volatilidade. Tentei apanhar topos e fundos naquilo que considerei serem mercados muito “sobrecomprados” e “sobrevendidos”. Os mercados continuaram o seu ritmo e eu perdi muito. Acabei por me aperceber da futilidade da minha postura e parei por uns tempos.
Qual o mais importante conselho que poderia dar a um “trader” mediano?
Diria que deve encontrar um “trader” superior para negociar por ele e, depois disso, ir procurar algo que realmente adore fazer.
Acredita que a leitura de gráficos pode ser usada para um “trading” de sucesso?
Ler gráficos é um pouco como “surfar”. Não é preciso saber-se muito da física das marés, da ressonância e da dinâmica dos fluidos para apanhar uma boa onda. Apenas se precisa de estar preparado para sentir quando é que ela vai acontecer e entrar nela na altura certa.
Como foi a sua experiência pessoal em Outubro de 1987?
Ganhei dinheiro no dia do “crash” em Outubro de 1987. Também ganhei dinheiro nesse mês, como um todo, e nesse ano também. Contudo, perdi no dia a seguir ao “crash” pois estava curto no mercado de taxas de juro. A maior parte dos “traders” de tendência estavam líquidos ou curtos em acções e índices durante o “crash”.
Os mercados são agora diferentes do que eram há cinco ou dez anos atrás devido ao facto de ter aumentado fortemente a participação de gestores profissionais no mercado?
Não. Os mercados são os mesmos agora do que eram há cinco ou dez anos atrás pois continuam sempre a mudar- tal qual como faziam nessa altura.
O “trading” torna-se mais difícil à medida que o tamanho das posições aumenta?
Torna-se mais difícil pois é complicado movimentar grandes posições sem fazer mover o mercado. Por outro lado, torna-se mais fácil porque passamos a ter acesso a pessoas competentes para nos auxiliarem.
A que tipo de auxílio se refere?
Uma equipa de corretores experimentados com uma atitude profissional. “Traders” experientes podem ser muito úteis nem que seja apenas por estarem ali a partilhar as suas alegrias e tristezas. Além disso, os mais antigos parecem estar preparados para “cheirar” o início e o fim dos grandes movimentos. Também recebo importantes ajudas dos meus amigos, sócios e família.
Usa algum serviço de aconselhamento externo?
Vou estando atento a diversos serviços de aconselhamento externo, sobretudo através da leitura da imprensa da especialidade e das conversas com os corretores.
E quanto a “market letters”?
As “Market letters” estão geralmente atrasadas em relação ao mercado, uma vez que, de forma geral, respondem à procura de notícias sobre o mercado. Embora hajam importantes excepções, a escrita de “Market letters” é geralmente um trabalho inicial na indústria dos mercados e por isso é geralmente escrita por “traders” inexperientes ou até por pessoas que nunca negoceiam. Os bons “traders” negoceiam. Os bons escritores de “market letters” escrevem.
Usa a opinião de outros “traders” na sua tomada de decisão ou negoceia completamente “a solo”?
Geralmente, ignoro os conselhos de outros “traders” na tomada de decisões, especialmente daqueles que falam em “certezas”. Os “traders” mais antigos que falam de “talvez haja hipóteses de o mercado fazer isto” geralmente são mais acertados.
Há semelhanças entre os padrões de preços dos diferentes mercados?
Os padrões comuns transcendem o conhecimento individual do mercado. Por exemplo, o preço das obrigações têm muito em comum com a forma como as baratas sobem e descem um muro. Infelizmente para os seguidores das baratas, não há geralmente ninguém para tomar o outro lado do negócio.
O mercado accionista comporta-se de forma diferente dos outros mercados?
O mercado accionista comporta-se de forma diferente de todos os outros mercados e também se comporta de forma diferente do mercado accionista. Se é difícil de perceber é porque tentar perceber os mercados é um pouco fútil. Não acho que faça mais sentido tentar perceber o mercado accionista do que tentar perceber música. A maior parte das pessoas parece que está mais preocupada em perceber o mercado do que em tentar ganhar dinheiro.
O que é que quer dizer quando afirma que “O mercado accionista se comporta de forma diferente do mercado accionista.”?
O mercado accionista comporta-se de uma forma diferente dele mesmo, uma vez que os padrões facilmente identificáveis raramente se repetem.
Os grandes “traders” têm um talento especial para o “trading”?
Os bons “traders” têm um talento especial para o “trading” assim como os bons músicos e os bons atletas têm talento nos seus campos. Os grandes “traders” são aqueles que são absorvidos pelo seu próprio talento. Eles não possuem talento – o talento possui-os a eles.
Qual é a relação entre o talento e o trabalho no sucesso no “trading”?
Não sei onde um começa e o outro acaba.
Qual o papel da sorte no sucesso no “trading”?
A sorte desempenha um papel muito importante no sucesso no “trading”. Algumas pessoas foram suficientemente sortudas para nascerem inteligentes, enquanto outras foram suficientemente inteligentes para nascerem com sorte.
E que tal uma resposta séria?
“Sorte” ou “Inteligência” ou “Dom” são palavras que indicam uma atitude propensa a domínio. Eu penso que a maioria dos bons “traders” tem uma “luz” extra sobre o “trading”. Algumas pessoas são naturais músicos, pintores, vendedores ou analistas. Eu penso que é difícil adquirir talento para o “trading”. Contudo, se já o tiver, ele pode ser descoberto e desenvolvido.
Que efeito tem o “trading” na sua vida pessoal?
A minha vida pessoal está integrada na minha vida de “trader”.
Já reparei que não tem um ecrã com as cotações na sua secretária.
Ter um ecrã com as cotações é como ter uma “slot machine” na sua secretária – você acaba por a alimentar durante todo o dia. Eu obtenho os meus dados depois do fecho do mercado.
Porque é que tantos “traders” falham no mercado?
Pela mesma razão que a maior parte das tartarugas bébés falham em alcançar a maturidade: Muitos são chamados e poucos são escolhidos. A sociedade funciona através da atracção de muitos. No final, só alguns são escolhidos, enquanto os outros ficam libertos para encontrarem algo em que sejam bons.
O que pode um “trader” perdedor fazer para se transformar num “trader” ganhador?
Um “trader” perdedor não pode fazer muito para se tornar num “trader” ganhador. Um “trader” perdedor não vai querer transformar-se. Esse é o género de coisas que fazem os “traders” ganhadores.
Como é que você classifica a importância relativa entre a psicologia e a análise do mercado para se ter sucesso no mercado?
A psicologia motiva a qualidade das análises e coloca-a em funcionamento. A psicologia é a condutora e a análise o mapa da estrada.
Você concentra-se muito no campo da psicologia. Consegue, depois de falar com alguém, dizer que essa pessoa pode ser provavelmente um bom ou mau “trader”?
Sim, os “traders” ganhadores geralmente foram vencedores em quaisquer áreas onde estiveram nos anos passados.
Que traços observa para identificar a personalidade ganhadora de um “trader”?
1. Ele/Ela adora negociar;
2. Ele /Ela adora ganhar.
Mas todos os “traders” querem ganhar, não é?
Ganhar ou perder , toda a gente tem aquilo que quer do mercado. Algumas pessoas parece que querem perder, então ganham, perdendo dinheiro.
Conheço um “trader” que parecia apanhar sempre o início de todas as subidas substanciais e transformou os seus 10 mil dólares em 250 mil num par de meses. Depois, mudava a sua personalidade e perdia tudo o que tinha ganho. Este processo repetia-se com regularidade. Desde que eu comecei a negociar com ele, saindo quando a sua personalidade mudava, dobrei o meu dinheiro, enquanto ele foi à falência como era costume. Eu disse-lhe o que estava a fazer e pagava-lhe as comissões de gestão. Mas ele não conseguia ajudar-se a si mesmo. Não acredito que ele conseguisse fazê-lo de uma forma diferente. Ele não o queria. Tinha uma grande dose de excitação, tornava-se um mártir, conseguia a simpatia dos seus amigos e conseguia ser o centro das atenções. De certa forma, julgo que ele realmente tem aquilo que quer.
Penso que se as pessoas olharem profundamente para os seus padrões de “trading” descobrirão que, fazendo um balanço incluindo todos os seus objectivos, realmente obtêm aquilo que querem, mesmo que não o percebam ou não o queiram admitir.
Um médico amigo contou-me uma história sobre uma doente com cancro que usava a sua doença para atrair as atenções e, em geral, para dominar os outros que estavam à sua volta. Numa experiência previamente combinada com a família dela, o médico disse-lhe que haveria uma injecção que poderia curá-la. Ela arranjou, constantemente, desculpas para não comparecer à injecção e, inclusivamente, recusou-se mesmo a tomá-la. Talvez a sua posição política fosse mais importante para ela que a sua própria vida. Os resultados do “trading” pessoal, provavelmente, reflectem mais as prioridades de cada um do que as pessoas querem admitir.
Penso que alguns dos mais brilhantes e interessantes “traders” negoceiam para algo mais do que simples lucros; penso que eles também negoceiam para a excitação. Uma das melhores formas para aumentar os lucros é estabelecer objectivos e visualizações de forma a alinhar o consciente e o subconsciente para obter lucros. Trabalhei com vários “traders” de forma a examinar as suas prioridades e alinhar os seus objectivos. Usei uma combinação de hipnose, respiração, caminhada, visualização, linguagem gestual, massagem, entre outras coisas. Os “traders” geralmente queriam uma destas duas coisas: (1) terem muito mais sucesso ou (2) perceber que eles realmente não querem ser, em primeiro lugar, “traders”.
Seguramente, algumas pessoas perdem pela sua falta de competência técnica, mesmo que queiram realmente ganhar.
É uma feliz circunstância quando a natureza nos dá desejos naturais de vitória e nos dá também os meios para os satisfazer. Aqueles que querem ganhar e a quem lhes falta competência técnica podem procurar alguém com essa competência para os ajudar.
Por vezes eu tenho sonhos relacionados com a direção do mercado. Embora esses sonhos sejam muito pouco frequentes, misteriosamente sempre estiveram certos. Já teve alguma experiência semelhante?
Conheço várias pessoas que afirmam ter indicações do rumo do mercado durante os sonhos. Eu penso que uma das funções dos sonhos é conciliar as informações e os “fellings” que o nosso consciente acha impossíveis. Por exemplo, eu disse a vários amigos meus que esperava que a prata continuasse a subir. Quando ela começou a descer, ignorei esse sinal e tentei dizer a mim mesmo que era apenas uma correcção temporária. Temi perder a reputação e dinheiro. Não conseguia suportar estar errado. Nesta altura, sonhei várias vezes que estava num brilhante avião de prata que estava a perder velocidade e começou a cair em direcção a um inevitável acidente. Acabei por fechar a minha posição, abrindo, inclusivamente, posições curtas e os sonhos pararam.
Como julga o sucesso?
Eu não julgo o sucesso. Eu celebro-o. Acho que o sucesso tem a ver com o encontrar-se a nossa própria vocação e o nosso caminho independentemente do ganho financeiro.
Não se deixe distrair pelo humor dos comentários de Sekyota; há uma grande dose de sabedoria nas suas astutas respostas. Para mim, pessoalmente, o mais interessante comentário foi: “Todos têm aquilo que querem do mercado”. Quando Sekyota disse esta frase pela primeira vez, pensei que ele estava simplesmente a ser simpático. Mas rapidamente percebi que ele falava muito a sério. A minha resposta reflexiva a esta premissa foi de descrença: tem implícito que todos os perdedores querem perder e que todos os ganhadores que não chegam a atingir os seus objectivos (como eu próprio) estão a preencher uma necessidade interior de se auto-limitarem a uma fronteira de sucesso – uma situação algo difícil de se “engolir”. Embora a lógica rígida da minha mente não aceitasse a ideia, o meu respeito pelo conhecimento de Sekyota sobre mercados e pessoas forçou-me a considerar o potencial de verdade da afirmação de que todos têm aquilo que querem do mercado- o seu conceito mais provocador.”
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