sábado, 22 de outubro de 2011

Grandes Investidores - Paul Tudor Jones

Em Outubro de 1987, um mês negro para a maioria dos investidores no mercado accionista, os fundos geridos por Paul Tudor Jones registaram uma valorização de 62%. São performances como esta que distinguem um grande trader de um bom trader, e foi este mês que serviu para “separar as águas”. Mas não foi apenas em Outubro de 1987 que registou bons momentos na sua carreira. O seu percurso está recheado de sucessos e foi sempre bem sucedido em todos os projectos em que enveredou. Começou como corretor e no seu segundo ano de trabalho conseguiu ganhar um milhão de dólares em comissões. Depois foi para o floor da New York Cotton Exchange e em três anos e meio apenas registou um mês negativo. Em 1984, porque estava prestes a perder a voz (um dos males dos “pit traders”), lançou o Tudor Futures Fund, com 1.5 milhões de dólares sob gestão. Cada mil dólares investidos no fundo valiam no fim de Outubro de 1988 17,482 dólares, sendo que a capitalização do fundo ascendia a 330 milhões de dólares. A mudança de corretor para “trader” deveu-se sobretudo ao facto de Paul Tudor Jones se aperceber que existe um conflito de interesses entre o “broker” e o seu cliente. O rendimento do corretor é proveniente das comissões que angaria e independentemente de o seu cliente ganhar ou perder, o corretor ganha sempre. Jones não achava isto bem e não queria ser compensado quando o seu cliente perdesse, daí a mudança para gestor de fundos. Como grande parte do seu capital (85%) está também contido no fundo que gere, Paul Tudor Jones, a sua performance individual estaria certamente bastante correlacionada com a performance do fundo.
Curiosamente, Paul Tudor Jones interessou-se pela primeira vez pelo “trading” quando leu um artigo sobre Richard Dennis, o anterior entrevistado. Considerava que este último tinha o melhor emprego do mundo e decidiu que era aquilo que iria fazer. Em 1976, quando terminou a universidade pediu ajuda ao seu tio que negociava algodão, que por sua vez o apresentou a Eli Tullis, um dos principais negociadores de contratos de futuros desta matéria-prima. Jones recorda que foram os seus conselhos que o lançaram como trader. Com ele aprendeu “grandes máximas” como por exemplo «o mercado “vai para onde quer” e não há nada que possas fazer quanto a isso». Aprendeu também a transaccionar elevados volumes (ao contrário do que muitos pensam, é mais complicado obter retornos percentuais maiores quando se transacciona maior volume) e acima de tudo que, até certo ponto, os grandes traders são “contrarians” (assumem posições inversas à maioria das pessoas) e fecham posições ganhadoras quando o mercado parece melhor do que nunca. A este propósito, Jones aprendeu sobretudo a liquidar parte das suas posições sempre abaixo de novos máximos e acima de novos mínimos, ou seja, a não arriscar deixar grandes posições abertas para além destes pontos.
Quando questionada acerca da transacção de que melhor se recorda, Jones afirma que se tratou de um perda. Ao fim de três anos e meio fez uma transacção na qual perdeu cerca de 60% do seu património. Com esta perda aprendeu duas grandes lições: nunca “brincar” com o mercado e nunca arriscar tudo numa só transacção. Esta afirmação por parte de Jones mostra algo particularmente incrível: que apenas ao fim de 3 anos e meio é que Jones se mentalizou que teria de gerir o seu risco de forma mais adequada. A partida de então deixou de pensar em quanto poderia ganhar com a abertura de uma posição “se a coisa corresse bem” e passou a pensar em quanto é que poderia perder “se a coisa corresse mal”. Mudou também o estilo de “trading” passando a ter posições abertas durante menos tempo e passou também a diversificar bastante, apostando cada vez menos capital numa ideia de trading. Passou a incrementar posições ganhadoras e a cortar posições compradoras. Considera aliás, que o maior erro que um trader pode cometer é fazer preços médios com posições perdedoras. Outra coisa que não faz é transaccionar em situações nas quais não tem ideia qual a direcção que o mercado vai seguir. Por exemplo, não abre posições antes da divulgação de importantes relatórios macroeconómicos. Para Jones, isso é jogar e não transaccionar. Outro aspecto importante é estar confortável com as posições que se tem abertas, independentemente de serem ganhadoras ou perdedoras. Se de facto, tal acontecer, “mais vale sair”, afirma o entrevistado. Esta forma de estar no mercado mostra claramente um dos traços que melhor define Paul Tudor Jones: o de trader que não tem qualquer laço de lealdade às suas posições no mercado. O próprio considera que esse é um dos seus principais pontos fortes. Na sua auto-avaliação, o mesmo acrescenta ainda o seu desprendimento relativamente à performance passada como ponto forte. Não perde tempo a pensar na perda que “obteve há três segundos atrás, ou seja, tenta evitar qualquer envolvimentoa nível emocional com o mercado e tenta evitar que as suas ideias de trading em determinado mercado sejam influenciadas por juízos sobre a sua performance passada no mesmo mercado.
Ao contrário da opinião geral dos grandes traders, Jones considera que a melhor altura para ganhar dinheiro no mercado é nos momentos de inversão e não em períodos de tendência. Isto porque, de acordo com o entrevistado, os mercados estão em tendência apenas 15% do tempo. Esta é uma das razões porque não se considera um “trend follower”. Outra é o facto de ter de utilizar stops muito afastadas do preço da abertura de posição, situação na qual se sente desconfortável. Por ter esta atitude claramente contrária ao consenso geral, Jones conseguiu prever com exactidão o crash de Outubro de 1987. Desde meados de 1986, a sua firma tinha planos de contigência para um crash. Os primeiros sinais de que as suas posições curtas no mercado accionista estavam correctas surgiram quando na sexta-feira 16 de Outubro o mercado encerrou em baixa com um volume muito elevado e foram posteriormente confirmadas quando o secretário de Estado James Baker afirmou que os EUA não defenderiam o dólar nos mercados cambiais no fim-de-semana. Na segunda-feira 19 de Outubro de 1987 chegou ao seu escritório e tinha a certeza que o mercado se iria afundar. Tinha razão. O retorno de 62% que obteve nesse mês é, a todos os títulos, extraordinário.

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