sábado, 22 de outubro de 2011

Grandes Investidores- Larry Hite

Larry Hite é o exemplo do indivíduo que levou algum tempo a descobrir qual era o seu verdadeiro interesse – mercados financeiros. Antes de fazer do trading o seu sustento, desempenhou inúmeras profissões, desde actor a argumentista. Certo dia, ouviu H. L Hunt a explicar, num programa de rádio, como havia feito a sua fortuna comprando opções de compra. A escolha de opções como instrumento financeiro possibiliva a obtenção de avultados lucros, com risco mínimo. Nessa mesma noite, Hite conheceu Brian Epstein, o “manager” dos Beatles. Ao lembrar-se das declarações de Hunt, Hite deu consigo a pensar: “Aqui está uma profissão (empresário de grupos de música), que tem potencila de gerar muito dinheiro com investimento mínimo.” A partir daí dedicou-se a esta profissão, mas mais uma vez, o seu sucesso foi limitado.
A pergunta que ocorre imediatamente é: “Como é que um actor-argumentista-empresário de bandas acaba como trader?” O seu interesse pelos mercados financeiros nasceu na universidade. Um dos seus professores apresentava em certa aula, os diversos instrumentos financeiros. Depois de falar dos mercados accionista e obrigacionista, introduziu o mercado de futuros da seguinte forma: «Bem, agora chegamos ao mercado mais louco de todos – o mercado de “commodities” (na altura sinónimo de mercado de futuros) – é “constituído” por pessoas que pagam 5% (as margens) do valor do activo e a maior parte dessas pessoas pede dinheiro emprestado para o fazer.» Ao contrário da maioria dos seus colegas, Hite não se riu após esta frase e achou que a ideia fazia todo sentido. Em 1968, depois de anos a saltar de carreira em carreira, decidiu dedicar-se à transacção de futuros. No entanto, nada sabia sobre mercados financeiros e decidiu começar como corretor. Logo na primeira entrevista de emprego, deparou-se com um interlocutor que declarou que a firma só comprava “blue chips”. Na altura não estava familiarizado com o conceito, mas quando soube que se tratava da mais cara ficha do casino de Monte Carlo e que se atribuía esse nome às acções das mais sólidas empresas, deitou fora o livro “Principles of Security Analysis” (considerado por muitos a bíblia do analista de acções) e comprou “Beat the Dealer”. Ficou, desde então, com a ideia que o investimento com sucesso era apenas uma questão de probabilidades e que se fosse possível descobrir essa probabilidade, poder-se-iam encontrar métodos de bater o mercado. De acordo com o entrevistado, isto acontece porque os mercados são ineficientes. Ironicamente, Hite afirma que toda a gente que conhece que acredita no contrário, é pobre.
Este excepcional trader acredita piamente no trading computorizado e confia plenamente no sistema que desenvolveu. Confrontado com perguntas do género “Não é chato estar à espera dos sinais?”, responde simplesmente “Não transacciono por excitação, transacciono para ganhar”. Larry Hite é um trader que privilegia a gestão do risco e não a gestão de activos, isto é, não importa qual o mercado que está a transaccionar, mas sim o risco. É indiferente transaccionar café, petróleo, ouro, acções, milho, câmbios ou carne de porco; Hite apenas transacciona dinheiro, não mercados. As principais regras pelas quais se rege e cumpre sempre são:
1 – Respeitar sem qualquer dúvida os sinais do sistema de trading e apenas arriscar perder 1% do dinheiro investido (i.e. coloca a stop de protecção a 1% do preço de compra). Ao arriscar 1%, Hite fica indiferente a qualquer transacção individualmente.
2 – Nunca ir contra a tendência.
3 – Diversificar, quer em termos geográficos, quer em termos de activos transaccionados, quer em termos de período (usar diferentes sistemas conforme a perspectiva temporal do investimento).
4- Nunca transaccionar em mercados muito voláteis.
Hite resume a sua postura utilizando uma analogia com um semáforo:
Sinal verde: todos os sinais são transformados em transacções;
Sinal amarelo: liquidam-se algumas posições de acordo com os sinais, mas não se abrem novas posições;
Sinal vermelho: liquidam-se automaticamente todas as posições e não se abrem novas posições.
Hite ilustra com um exemplo: Em 1986, quando o café subiu de 1.30 para 2.80 dólares/bushell e recuou novamente para 1 dólar, Hite liquidou a sua posição longa durante a subida do preço quando o bushell de café cotava nos 1.70 dólares e ficou fora do mercado o resto da subida e toda a descida do preço. Apesar de ter perdido algum lucro adicional, estar fora do mercado em situações análogas, permitiu que a sua empresa, a Mint Investment Management Company, mantivesse um apertado controlo do seu risco. Esta postura avessa ao risco, permitiu que a Mint registasse entre Abril de 1981 e Junho de 1988 um retorno médio anual superior a 30% (+13% no mínimo e +60% no máximo). A maior perda num período de 6 meses (qualquer) foi de 15% e a sua maior perda num período de 12 meses (qualquer) foi de apenas 1%. Em termos absolutos, a Mint iniciou a gestão de um fundo de futuros com 2 milhões de dólares. Sabemos hoje que este fundo chegou a ultrapassar os mil milhões de dólares. Hite acredita que é essencial respeitar o risco e nunca ir contra o mercado. Conta duas histórias sobre pessoas que conheceu que não o fizeram e que se arrependeram. Tinha um amigo que conseguiu fazer uma fortuna como arbitragista e que comprou um palácio em Inglaterra. A partir de então instalou-se e dedicou-se ao trading, tendo desenvolvido um sistema. Certo dia, numa conversa com Hite afirmou: “O meu sistema de trading despoletou um sinal de venda em ouro, mas não me parece correcto e não vou respeitá-lo; de qualquer forma, metade dos sinais que o sistema dá estão errados, portanto…”. Hite instou-o a encerrar a posição, o que não fez, tendo até incrementado a posição longa. Perdeu tudo o que tinha ganho e nunca mais transaccionou na vida. Outro exemplo do perigo que há em não respeitar os sinais é o de um primo. Esse primo transformou 5,000 dólares em 100,000 dólares a transaccionar opções. Hite perguntou-lhe, certo dia, como tinha conseguido. “É muito fácil”, respondeu, “compro uma opção e quando sobe vou incrementado a posição. Se o preço baixar, só liquido a posição quando volta ao preço original”. Hite respondeu-lhe que a sua estratégia não iria resultar no longo prazo. Tinha razão…

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