Eugênio Holanda, que se uniu a Luiz Cezar Fernandes para comprar a operação brasileira do Dresdner Bank, é médico, fã do psicodrama, judeu convertido e - acima de tudo - polêmico
Eugênio Pacelli Holanda, de 45 anos, foge do estereótipo dos demais donos de banco no Brasil. Primeiro, porque nasceu no interior da Paraíba, numa das regiões mais pobres do país. Segundo, porque é médico, uma ave rara num mundo dominado por economistas, administradores e engenheiros. Sua trajetória no campo religioso também é fora do padrão. Holanda nasceu em uma família católica - seu nome do meio, Pacelli, é uma homenagem ao papa Pio XII -, mas na adolescência se converteu ao judaísmo "por uma inquietação espiritual". Entre seus gurus, nada de Adam Smith ou John Maynard Keynes, Jack Welch ou Jim Collins. Holanda tem como um de seus guias o romeno Jacob Levy Moreno, o papa do psicodrama - método que revive episódios traumáticos em forma de dramatização e que, algumas vezes, acaba em catarse. E, para completar, Holanda não segue o figurino de um típico banqueiro: na mão, no lugar de um BlackBerry, uma corrente de ouro. Quem o julga exótico pela aparência ou por suas preferências intelectuais corre o risco de não enxergar o essencial: até agora, Holanda mostrou que sabe ganhar dinheiro.
Junto com Luiz Cezar Fernandes, um dos fundadores dos bancos Pactual e Garantia, Holanda acabou de comprar a operação brasileira do banco de investimento alemão Dresdner Bank, rebatizado de MTT Banco. Fernandes entrou com a experiência e Holanda com os cerca de 100 milhões de dólares necessários para a aquisição - quantia que o ex-médico juntou em menos de dez anos. Filho de um professor universitário e de uma bordadeira, Holanda começou a exercitar cedo seu lado empreendedor. Durante a adolescência, foi trabalhar numa livraria para ter o próprio dinheiro. Quando se formou em medicina pela Universidade Federal da Paraíba, era dono de uma clínica em João Pessoa. Foi na década de 80 que o cirurgião paraibano, já morando no Rio de Janeiro, desistiu da carreira médica enquanto fazia um mestrado em administração pública na Fundação Getulio Vargas. Desde então, abraçou de vez a economia: trabalhou em uma gestora de recursos, foi consultor de empresas na época das privatizações e acabou se tornando diretor do BRJ, banco carioca de pequeno porte especializado em crédito imobiliário. "Sempre enfrentei preconceito na minha vida: você tem ideia do que é um médico ser diretor de banco? Eu era uma figura exótica", diz Holanda.
Há oito anos, quando deixou de ser diretor do banco BRJ, Holanda se especializou no mercado de títulos públicos federais ligados ao setor imobiliário. Seu trabalho, de maneira simplificada, era vasculhar no mercado contratos imobiliários fechados entre as décadas de 60 e 90 e garantidos por recebíveis do governo. O passo seguinte era transformar esses recebíveis em dinheiro para si próprio ou para instituições clientes. "É um nicho pouco explorado, pois é muito burocrático e limitado aos títulos já existentes, mas é lucrativo para quem sabe operar", diz Valderi Albuquerque, superintendente de negócios do banco Fator e ex-presidente da Caixa Econômica Federal. A Tetto Habitação, empresa fundada em 2004 por Holanda, é apontada pelos poucos concorrentes como a maior administradora desse tipo de título, com cerca de 4 bilhões de reais sob gestão. O novo banqueiro já decidiu que vai se afastar do dia-a-dia da Tetto para dedicar-se ao MTT Banco. "O Eugênio tem o costume de focar naquilo que faz. Estuda tudo com uma precisão cirúrgica, daí seu sucesso", diz Vicente Ferreira, um de seus professores no MBA em finanças da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
em sua trajetória, há ao menos um ponto polêmico. Dois profissionais ligados à Tetto são acusados pela Polícia Federal de ter transferido 200 000 reais em outubro de 2006 para contas de pessoas ligadas ao governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima - cassado em fevereiro por crime eleitoral. Meses antes, essas mesmas pessoas haviam adquirido as carteiras de crédito da Companhia Estadual de Habitação Popular e do Instituto de Previdência do Estado da Paraíba. Atualmente o processo se encontra no Tribunal de Contas da Paraíba e ainda não foi julgado. Perguntado sobre o assunto, Holanda negou qualquer ato ilegal por parte da Tetto. Suas energias agora, diz ele, estão todas centradas no mais novo desafio de sua história profissional: fazer do MTT uma referência do mercado na área de bancos de investimento. O sonho é transformar o banco numa grife com o charme e a força que já foram características do Garantia e do Pactual e ganhar com operações de reestruturação financeira de empresas e fusões e aquisições. Para muitos, repetir tais sucessos será uma tarefa quase impossível - mas quem disse que Holanda gosta de seguir o caminho mais fácil?
ESCÂNDALO DENUNCIADO PELO 247 REVELOU QUE A EMPRESA TETTO, DE EUGÊNIO HOLANDA, VENDEU TÍTULOS FALSOS, QUE ACABARAM EM PODER DE INVESTIDORES COMO O POSTALIS, O FUNDO DE PENSÃO DOS CORREIOS; DILMA ESTUDA INTERVIR NA CRISE PT-PMDB
ResponderExcluir23 de Dezembro de 2011 às 10:43
247 - O PPS quer que o Tribunal de Contas da União investigue a Caixa Econômica Federal para apurar o escândalo da venda de títulos falsos. No segundo semestre de 2008 e no primeiro de 2009, uma empresa do Rio, a Tetto, de Eugênio Holanda, teria negociado no mercado títulos imobiliários, garantidos pela CEF. No entanto, esses papéis seriam micados, sem o devido lastro – mas que, agora, estão sendo cobrados da Caixa pelos compradores. O líder do partido na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), apresentou ontem uma solicitação para investigar o caso na Comissão de Fiscalização e Controle.
No dia 10 de novembro, o Brasil 247 revelou que o banqueiro Antônio José Carneiro, dono do Multiplic, havia comprado esses papeis e estaria ameaçando entrar na Justiça contra a Caixa Econômica Federal, caso não recebesse o que lhe era devido. Um dia depois, o fundo de pensão Postalis, dos funcionários dos Correios, também comprou os mesmos papéis micados. Ao todo, as fraudes somam mais de R$ 1 bilhão e colocam mais pimenta na disputa entre PT e PMDB pelo comando do banco público
O objetivo da legenda é descobrir como uma empresa do Rio se aproveitou de uma pane no sistema de informática da Caixa para vender papéis de baixo ou nenhum valor para investidores privados, bancos e um fundo de pensão, como se fossem de alta rentabilidade.
O escândalo ocorre em meio a uma disputa na cúpula da Caixa Econômica Federal. O PMDB e o PT da presidente Dilma Rousseff controlam os principais postos na diretoria da Caixa, mas nas últimas semanas os apadrinhados dos dois partidos entraram em conflito, levando os peemedebistas a ameaçar retaliar o governo em votações no Congresso. O foco principal da disputa é o FI-FGTS, fundo de investimentos formado com recursos do FGTS e que tem cerca de R$ 19 bilhões aplicados em empresas associadas a projetos de infraestrutura como a usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia.
O Palácio do Planalto indicou que vai manter sob a influência do PMDB um posto-chave na cúpula da Caixa Econômica Federal, numa tentativa de aplacar a insatisfação exibida pela bancada do partido no Congresso nesta semana.
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